quarta-feira, 18 de julho de 2007

Olha O Olho da Menina
Marisa Prado
Menina crescia escutando
que não adiantava mentir
porque mãe sempre sabia
Mãe dizia
que lia na testa da Menina,
e que só Mãe sabia ler testa.


Menina tentava tapar a testa
com a mão na hora de mentir.
Mãe achava graça. Muita graça.
E continuava lendo assim mesmo

Menina precisava entender
como essa coisa misteriosa acontecia.
No espelho do banheiro,
mentia muito em silêncio. E na testa, nada escrito!

Aí, Menina descobriu que Mãe também mentia.
E que então não era testa
- era o olho, com um brilho diferente -
que entregava a mentira.

Menina então tentava fechar o olho com força,
para esconder a Mentira.
Mas nem isso resolvia, pois Mãe sempre adivinhava.

Menina tinha era que aprender
a fingir de olho aberto que mentira era verdade.
Menina tentou, tentou... e aprendeu.
Era essa a solução.

Mas de noite Menina ficava apertada por dentro.
Assim meio sufocada, não podia nem piscar.
Com o olho muito aberto, não conseguia dormir.

Faltava ar pra Menina.
Igual quando a gente fica quase sem respirar
rindo de uma cosquinha. Só que não tinha graça.
Menina - sem querer - tinha descoberto a Consciência,
uma coisa que toma conta da gente
mesmo quando Mãe não está lendo testa,
nem adivinhando olho.

Menina tinha aprendido que ter que fingir doía.
E que desse jeito ia ficar muito sem graça
ser gente grande.
Menina desistiu de crescer.

Mas não adiantava.
Menina via que agora já estava quase da altura
do móvel da sala da vovó.
E ficava muito triste, o aperto apertando mais.
E de tanto que o aperto apertava,
Menina achou que fingir só podia doer tanto
porque era dor sozinha.

Menina teve uma idéia,
e ainda não sabia
se era idéia brilhante.
Mas sabia - isso sim - que precisava testar,
pra conseguir descobrir.

A idéia da Menina foi dizer para Mãe
que era difícil fingir.
Menina achava ruim aprender montes de coisas
sem dividir com ninguém.

Menina falou pra Mãe que era muito complicado
e que não era nada bom ter que crescer sozinha.

Mãe abraçou muito apertado a Menina.
E no colo tão esperado Menina estava sendo mãe da Mãe.

Menina sentiu que Mãe estava chorando.
E que Mãe ainda não tinha aprendido tudo.


Mãe não falava nada
Mas uma e outra sabiam
naquele abraço apertado
que em Mãe também doí
a ser gente grande sozinha.

Nessa hora
Menina entendeu tudinho.
Descobriu que só carinho
é que espanta a solidão.
E que dor, se dividida,
fica dor menos doída.
E que aí, dá até vontade de continuar a crescer
pra descobrir o resto das coisas.

domingo, 8 de julho de 2007

Passei só para dar um OI e um beijinhooooooooooo :)

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Hoje muito em especial venho trazer-te muita sorte para o teu exame e dar-te todo o meu apoio.
MySpace Graphics

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A nós...


"Para ser grande, sê inteiro,

Põe quanto és no mínimo que fazes

Nada teu exagera ou exclui.

Assim, em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive."

in Ricardo Reis

terça-feira, 3 de julho de 2007


domingo, 1 de julho de 2007

MÃE

Mãe... São três letras apenas

As desse nome bendito:
Também o Céu tem três letras...

E nelas cabe o infinito.

Para louvar minha mãe,
Todo o bem que se disse
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela me quer...

Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do Céu
E apenas menor que Deus!
"Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a dizer.
E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração bater desordenadamente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade.

Às vezes é preciso partir antes do tempo, dizer aquilo que se teme dizer, arrumar a casa e a cabeça, limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto, acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto, apertar as mãos uma contra a outra e rezar a um deus qualquer que nos dê força e serenidade. Pensar que o tempo está a nosso favor, que o destino e as circunstâncias de encarregarão de atenuar a nossa dor e de a transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim.

Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizémos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor.

Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último combóio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.


Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio e paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer."

in Margarida Rebelo Pinto, Às vezes